Sonaira D'Ávila

7 de mai de 20162 min

Coração de mães

Atualizado: 12 de out de 2019

Não, não fui mãe.
 

 
Nunca carreguei por 9 meses uma vida dentro de mim.
 

 
Nunca senti as dores do parto ou as angustias da "boa hora"!

Também nunca fui obrigada a gerir o que não desejava e condenar em vida uma vida.

Não seria este

o pior dos abortos, o abandono?


 
Não, nunca recebi presentes, telefonemas, flores ou almoços de domingo em Maio!

Acordei pensado nisso, e me veio a imagem de uma grande fila de mulheres,
 

 
encabeçada pela minha mãe, a mãe dela, a mãe da mãe dela...
 

 
Todas MÃES.

Não, não fui mãe.
 

 
Não queria repetir a história delas e isso sempre foi muito forte em mim .
 

 
E pensei nos filhos e filhas delas...

Quanta dor, sonhos, lutas e desafetos.
 

 
Quantas histórias de medos e frustrações .
 

 
Sim, sou filha de várias gerações de mulheres, e de certa forma guerreiras, acostumadas a seguir em frente.

Elas não foram criadas com afeto e tinham medo dele. Pensavam que ele( o afeto) as enfraquecia, eu acho.
 

 
Mas, passaram a vida inteira buscando este colo primordial, este peito que nutre, este abraço sem cobranças onde a simples presença esquenta a alma.
 

 
E como não tinham, não conseguiam doar.
 

 
Foi e ainda é este o legado de muitos de nós...

Não , não fui mãe.

A eterna luta por sermos indivíduos e buscarmos ser aceitos como somos.
 

 
E apesar das diferenças e distâncias, receber um beijo e muitos abraços.
 

 
E quem sabe, um colo( prêmio maior).

Cresci assim, dando intuitivamente o que mais queria receber, mesmo sem saber!

E como que por mágica, quanto mais dava, mais recebia.
 

 
Sim, sou feita de colos, abraços, beijos .
 

 
Cresci cuidando de todos como gostaria que cuidassem de mim:

Com atenção, afeto, mediando os conflitos, arranjando saídas. E tentando de novo!


 
É, a capacidade de regeneração das crianças é invejável...Por isso luto pra minha não morrer!

Depois vieram os amigos, os alunos, os companheiros, os filhos da vida, os filhos dos amigos, os sobrinhos, o Marido, as filhas do marido, os netos…


 
Assim desenvolvi uma inteligência emocional que norteia minha vida com todos os sentidos.

Sempre fui a conciliadora, me dói no peito o desafeto, a raiva, a cobrança, o abandono e sobretudo a falta de escuta.

Principalmente quando no fundo, bem no fundo,TODOS queremos ouvir a mesma coisa.

Nada na vida é mais destrutivo do que uma palavra mau dita, do que o ciúmes, a disputa de afeto ou a mágoa que se remoe no dia a dia.
 

 
Nada é mais poderoso, curativo e revigorante do que um "EU TE AMO!” Nada...

Não,nunca fui mãe.
 

 
apenas um coração cheio delas.

#Alemanha #SonairaDÁvila

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