Há quem diga que lançar-se ao vazio, aventurar-se no desconhecido é algo para os fortes, para os corajosos.
Eu discordo. Venho percebendo cada dia mais que o rio corre numa direção e criar resistência sobre este fato, nada mais é do que gerar dor, gastar uma energia preciosa de maneira desnecessária. "Relaxe, nada está sob seu controle!", me sussurra a vida ao pé do ouvido. E eu, humildemente com um sorriso no rosto, venho aprendendo a acatar sua majestade. É logico que eu tenho minhas vontades, minhas metas, meus objetivos, meus sonhos de consumo.
E mantenho o compromisso comigo mesma de fazer tudo o que está ao meu alcance para alcançá-los. E é aí que termina minha auto-responsabilidade. Minha parte. Dizem que as vezes se perde o telhado para ganhar o céu. E eu ando vendo de camarote até eclipse lunar!
Muito curioso como a Vida te pega pelo braço (com aquela pegada irresistível!) e te mostra todo o borogodó que ela reservou pra você. Você nem tava com a sua melhor roupa ou esperando por aquele convite naquele momento, e ela cheia de suingue, te convida a dançar aquela sua música preferida que você achava que nem lembrava mais a coreografia. O ritmo que você achou não mais ser capaz de dançar.
A falta de oportunidade de exercer meu oficio no meu país, me levou a decidir morar fora, trabalhando numa outra função, com uma vida bem mais confortável mas pagando o preço altissimo de não estar alinhada com meu propósito de vida, meu dharma. Não trabalhando como atriz, alimento para minha alma.
Nunca me vitimizei por conta disso. Quantos de nós nao vive exatamente isso, senão a maioria? O interessante de passar muito tempo tomando água é que quando você toma aquele champagne que sempre quis, você consegue distinguir cada sabor e textura deste líquido tao glamouroso desejado por tantos.
Impossivel dizer que não é saboroso! E eu que não sou boba, vou tomá-lo com classe até onde me for ofertado! Mas percebo, de perto, o quanto de encantamento existe nele advindo apenas da minha imaginação e da percepção do meu entorno que mudou o olhar para comigo só por me ver com a taça na mão.
Estar numa novela das 21hs, de sucesso, ao lado da protagonista, num núcleo que caiu no gosto do publico está sendo o cenário perfeito para observar quase que como um estudo antropológico do ser humano.
Que delicioso, do dia para a noite, receber em minhas redes sociais centenas de mensagens de gente que nunca vi na vida emanando tanto carinho e admiração apenas pelo bel prazer de eu saber que eles existem e me admiram. E me querem bem. A relação agora mais do que cuidadosa com cada virgula que me comunico em entrevistas ou posts, já que existe um mercado faminto por um equivoco meu.
Mas o mais engraçado estava por vir: os conhecidos que, pelo fato de verem minha imagem exposta todas as noites na TV ou revistas e jornais, crêem que de alguma forma, me tornei uma pessoa mais interessante, mais legal ou sei-lá-eu-o-quê. As minhas inseguranças continuam as mesmas, continuo sendo a filha do seu Zé e da Lúcia, o sangue que corre nessas veias continua sendo o mesmo.
A purpurina está nos olhos de quem a vê.
Dentro de um set, não há glamour. O assistente de camera, o moço que me protege com guarda-sol, o diretor: somos todos iguais ali, cada um na sua função para o bem do todo, da feitura da cena que vai ao ar. Não sei se por sorte ou poesia, minha companheira de cena, a protagonista, famosa e ultra-reconhecida me mostra dia-a-dia no conviver, que é ali, tão operária quanto eu.
Nesse mix de percepções, indagações, vou curando as crenças doloridas que fui criando: de que talvez em meu país, eu nunca seria festejada/celebrada e que talvez o meu talento como atriz fosse apenas uma ilusão do meu ego.
Se é pra abrir mão de ilusão, que seja a da ideia de controle: pego a minha pranchinha e surfo a onda. Não sei exatamente em que praia ou ilha vou desaguar. Na verdade, não importa. Quanto tempo dura, quem vai me aguardar na linha de chegada. O foco agora é o caminho até lá e a alegria diária dessa aventura.
Daqui do alto, ver tudo desmitificado, possibilita mais segurança em minhas manobras de surfista. E a vista... ah... tá linda! Linda.