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  • Foto do escritorDo Rio pra cá

A vida é curta e o mundo tão grande...


A vida é curta e o mundo tão grande... Eu, tão taurina, tendo como busca essencial a tal da segurança, a tranquilidade do que já é conhecido... fui agraciada com a bipolaridade (dentro desse contexto) de nascer artista. E com isso, toda a inquietude, curiosidade, fome de vida e principalmente a desestabilidade que implica no "pacote completo" de quem vive da arte. Comecei a trabalhar como atriz e modelo já muito cedo, ainda criança. A oportunidade de sair do Brasil pela primeira vez se deu na adolescencia, e quem me levou foi o trabalho: um programa de um canal internacional, onde por 3 anos fui a correspondente brasileira e que, naquele momento, seria a vez de gravar juntos aos âncoras mexicanos, no México. Ao meu ver, toda viagem é um convite à transformaçao. Seja ela a turismo, ou a trabalho. Nacional ou internacional. Quanto mais diferente, ou heterogêneo forem os componentes dessa mistura, desse encontro, desse intercambio...mais profundamente modificado você sai dessa experiência. Ok, nao dá pra generalizar. Para tal feito, talvez você necessariamente precise ir de coração aberto, com alma disponivel, sem nenhum tipo de idéia etnocentrista...ou.. com a pureza do olhar imparcial de uma criança. No meu caso, eu ja era adolescente.. mas todos esses atributos levei na mala. Junto à minha mãe que respondia juridicamente por mim,( menor de idade na época), mas que foi minha filha na ocasião, por nao falar uma palavra em inglês ou espanhol. Lembro até hoje do choque cultural. Do nariz que sangrou com a altitude da cidade, com a divertida e gratuita simpatia que eu causava aos mexicanos quando descobriam que eu era do Rio de Janeiro, e como aos poucos fui escondendo essa informação quando notei que ao saberem, sempre me perguntavam se eu sabia sambar. Meu instinto ainda era comparar tudo com o Brasil. Lá tambem vi pobreza. Senhoras com cara de índias carregando seus filhos no colo pedindo dinheiro no sinal. Foi então que comecei, também instintivamente a entender que, pode-se mudar de país, de cultura.. mas que certas necessidades e maneiras de demonstrá-las, são comum ao ser humano independente de onde ele nasça. Anos mais tarde, já adulta tive outra oportunidade de trabalhar fora. Dessa vez, para inclusive morar. Recém saída de uma longa e dolorida historia de amor, enxerguei no convite um presente Divino e não exitei em aceitá-lo. Mal sabia que estava assinando o atestado de uma cirurgia irreversivel. Sim, agora sou taxativa e estou sim generalizando. É impossivel morar fora do país e continuar sendo o mesmo. É um ticket de ida sem volta. Divisor de águas. Pra melhor, num geral. Porque isso implica a você se rever. Rever a sua maneira de se comunicar com o outro e acima de tudo, colocar em prática a sua humildade de se assumir como alguém que muitas vezes não vai saber, não vai conhecer isso, não vai entender aquilo. Meu casulo de transformaçao foi a Tailândia. Lá me tornei borboleta. Dentro de uma cidade caótica como Bangkok, numa cultura de aromas, cores extremamente diferentes de tudo que eu havia experienciado, foi a oportunidade perfeita para eu aprender a doçura e alegria em servir, que é inerente a todos os tailandeses perante a um estrangeiro. Num lugar onde nem todo mundo fala inglês e onde a maioria das placas estao em idioma local, naturalmente me tornei mais observadora da comunicação corporal do outro: do significado de um sorriso, de um olhar. De quanto um pedido meu de chocolate quente no café da manhã podia chocá-los da mesma maneira que eu me chocava ao vê-los tomando sopa apimentada de manhãzinha. A experiência asiatica se estendeu a China, onde não me adequei de maneira nenhuma, mas que foi importante pra aprender sobre tolerância em relação as diferenças de costumes. A cidades chinesas de Guangzhou e Shantou onde morei, respectivamente, têm uma sinfonia em comum: o barulho de escarração no chão 24hs por dia. Eu me perguntava como que uma população conseguia produzir tanto catarro ao mesmo tempo. (Sim, é um dado um tanto escatológico, mas importantíssimo dentro do que vivi, pois já não conseguia comer na rua ou mesmo nos restaurantes que em sua quase totalidade, tinham um aroma nada agradável.) Lá se malhava em academias onde era permitido fumar dentro. Aliás, fumar era permitido em qualquer lugar fechado. O Facebook ou msn não funcionavam, e as palavras que chinês defintivamente mais aprecia são TRABALHO e DINHEIRO. É justamente nessa hora que bate a gigantesca saudade do Brasil. Aliás, o termo "saudade" ganha outra dimensão e outro significado quando se mora fora. Inclusive passa-se a idealizar seu país de origem, as amizades que tinha ... e a mente, de uma maneira seletiva só consegue se lembrar do que era bom e doce. Você entra então numa pseudo-apaixonite-aguda pela sua cidade, passa a entrar numa abstinência do Brasil, e volta. Como eu fiz. A alegria da volta acontece, é genuina, mas dura pouco. No maximo 15 dias. Porque você ja é outra pessoa. Tem outros olhos, outros filtros e tem um novo baita problema pra sempre: nunca mais vai se sentir completo ou totalmente em casa. Você passou por lugares que amou a comida, mas sentiu falta dos seus parentes. Estando com seus parentes, você não tem concomitantemente acesso a atmosfera daquela outra cidade. E mais, você estará imcompleto pra sempre, ja que inevitavelmente fez amigos por onde passou, conexões de alma, conheceu pessoas que se tornaram literalmente sua familia, seus anjos da guarda enquanto esteve fora. Sem tristeza, você jamais estará "em casa" novamente. Passarinho que voa uma vez, que se lança ao precipício do desconhecido e vê que não morre...vicía no voo. Agora é a adrenalina do desbravar que se torna a zona de conforto e não o contrário. Quem mora um tempo fora fica com o campo de visão laciado, alargado e começa achar que o mundo ficou pequeno, fácil e que a qualquer momento podemos voltar a visitá-lo novamente. E eu fui. Morei um ano no Mexico, trabalhei pra caramba num mercado onde fui melhor e mais rapidamente absorvida do que na minha pátria-mãe-gentil. Continuei estabelecendo novas conexões, adquirindo hábitos mexicanos como o de fazer guacamole em casa, tomar cerveja com sal e limão... e curiosamente escrevo esse texto, me preparando para morar lá novamente no mês que vem. Dessa vez, sem data de regresso.

A sensação hoje é a de que minha única mala é meu corpo, onde cabem milimetricamente todos os pertences que realmente preciso para uma nova aventura. É no caos de um aeroporto onde mais me aproximo de uma meditação, de uma solitude, de um silencio interno. É onde mais me aproximo de mim.

Depois de morar fora, não tem jeito, você domou o mundo e ele está em suas mãos. São tantos medos enfrentados e sucedidos por conquistas, que fica fácil fazer tudo de novo. A vida é curta, e o mundo tão grande...

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