Tem vontade de morar na Inglaterra? Então não se preocupe com o frio. Já faz uns três anos que eu morei numa casa muito velha. Velha nível início de 1600.
Quero falar aqui de culturas, ou suas diferenças. Apreender culturas estrangeiras pode ser bom, mas é bom não arredar o pé quando a intuição também não se move. Pois bem, a casa velha. Numa tarde qualquer, abri as torneiras para preparar o banhos dos pequenos. Aí já é uma estranheza: não só as crianças tomam banho de banheira diariamente, como tomam juntas. Imundice coletiva, acho eu, mas quem sou?
Da torneira, pedaços de uma coisa preta e marrom começam a sair. Achei estranho porque só tinha notado até então a tal "sujeirinha" na pia de escovar os dentes. Liguei pro meu marido e ele me assegurou que casa velha é assim mesmo, sempre tem uma coisas aos pedaços, deve ser encanamento velho. Sei... Algo me dizia que aquilo não era normal. Chamei um encanador que me chamou num canto e me disse: "sente-se. A caixa d'água da casa está descoberta. Lá dentro boiam corvos em decomposição. Por isso os pedaços pretos saindo da torneira." Arrepios, pernas bambas, taquicardia,. Parecia até que eu estava apaixonada. Trocaram todo o encanamento, a caixa d'água e eu voltei a achar romântica a ideia de morar numa casa tão velha.
Até que comecei a reparar que quase toda noite eu era acordada com barulhinhos finos como aqueles de unhas raspando no chão. Antes fosse um dos vários fantasmas que viviam naquele lugar. Eram ratos, dentro do guarda roupa embutido que transitavam entre a casa da vizinha e a nossa. O duro é não ter a simpatia de ninguém. Todo mundo me dizia que casa velha é assim mesmo. Fica aqui a minha recomendação: se conhecem alguém que tenha vontade de se mudar pra cá, avise que o frio não é nada. Os ratos e os corvos é que são elas.
P.S. É com grande contentamento que eu comunico que agora moramos em outra casa. Essa, mais nova, de 1890.