top of page
  • Foto do escritornaravidal

Rumo a Inglaterra: Desarrumar a mala

Atualizado: 12 de out. de 2019


Free photo by pixabay

Lembro-me nitidamente do momento em que eu arrumava minha mala verde e grande para partir rumo a Inglaterra. Trancada no meu quarto que eu dividia com a minha irmã mais nova e que antes eu dividia com a irmã mais velha, (coisas de filha do meio) eu colocava cuidadosamente cada peça de roupa como se colocasse um plano e um sonho, um plano e um sonho. Enfiados na mala o ideal e a pretensão do amor. Amor que estava me esperando em algum lugar da Inglaterra. Uma alma também perdida e infeliz feito a minha à espera da minha chegada.

Um dia, uma coincidência aparente nos colocaria frente a frente e nos encontraríamos, finalmente. De uma certa maneira, o amor foi que me tirou dali de Minas. Ou talvez a falta dele. Ou talvez a falta de compreensão do que é o amor. Ainda não sei. Amor de família, de amigos, isso eu tinha e tenho, em uma abundância que até me comove. Mas eu queria o que nunca ia achar: um amor romântico na sua perfeição. Um amor que tivesse os mesmos interesses que os meus, os mesmos gostos, os mesmos objetivos e os mesmos princípios.

Rumo a Inglaterra, chegando na Europa, dez dias depois do ataque nas torres gêmeas de Nova Iorque, eu encontrei romance. Aqueles primeiros meses quando tudo é tão lindo que você acha que não pisa no chão. Mas a tal danada da rotina, dos horários, do trabalho, das pressões, do dinheiro, da vida que se apresenta, dão um jeito de entrar no meio do romance mais ideal e nos colocam no nosso lugar. Nos mostram que não adianta muito achar e querer toda a perfeição. Uma hora ela desmorona, simplesmente porque ela não passa de uma ilusão. Uma vontade feita por nós mesmos.

Mas aí, o danado do tal tempo tráz também um presente. Ele nos mostra que naquela mala verde, lá em Minas, recheada de brigadeiros e josefinas feitos com amor de fato, não estava o amor lá de fora. Estavam a esperança e a aposta que eu tinha em mim mesma. A vontade incontrolável de dar certo. E com a oportunidade que eu tenho de olhar pra trás e ver o tempo que era, passar os olhos no caminho e deparar-me com o tempo que é hoje, gosto de pensar que encontrei o amor. Já encontrei alguns dos meus erros e acertos e encontrei até uma pessoa com gostos e interesses bem diferentes dos meus. Temos princípios e objetivos comuns, mas temos objetivos só nossos também.

E nessa imperfeição que é o amor, dá pra ser feliz. Mesmo que a felicidade seja uma alegria rápida que passa e você nem vê. Mesmo que a alegria tenha pressa e você perceba ela indo embora. E quando a euforia passa, tem gente que tem uma mão pra dar. Seriam a sorte e o amor que vêm com o tempo? Ou talvez sejam o tal carinho e o tal respeito mútuos. Aquilo que lá atrás a gente imaginava chamar amor. Mas isso não é pra qualquer um. Uns têm amor. Uns têm sorte. Outros têm tempo.

Free photo by pixabay "Meeting place", escultura na estação de St Pancras, Londres

28 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page