Mulheres que inspiram arte e sabor.
Quem lê meus posts e matérias sabe que literatura, arte e bem viver são, pra mim, algumas das grandes maravilhas da vida. E se der pra casar livros clássicos escritos por mulheres com pratos deliciosos em ambientes especiais, então temos um cenário perfeito. Pense na minha felicidade de encontrar literatura e gastronomia em Londres em um só lugar.
Londres é dessas cidades que respira História, arte, cultura, referências. É comum passarmos em ruas ou diante de casas que pertenceram a alguns dos maiores escritores do mundo.
Certa vez, grávida da minha filha e atrasada para o ultrassom, quase fui atropelada por um carro bem em frente a casa onde morou Virginia Woolf. Afinal, do outro lado da Gordon Square ficava o médico que eu procurava. Dentro da correria da rotina me pego diante de preciosidades assim e é preciso dar tempo para pensar nelas, curti-las com a importância que merecem, sem hora marcada como foi o meu caso.
Sempre procuro lugares que estejam relacionados à literatura e com especial interesse, em literatura feita por mulheres.
Foi assim que encontrei o Dalloway Terrace, no coração de Bloomsbury.
Uma óbvia homenagem a uma das mais reconhecidas obras de Virginia Woolf, Mrs Dalloway, o terraço é restaurante e cocktail bar com um interior lindíssimo. Aliás, o terraço vem, crescentemente, se tornando muito popular entre usuários do Instagram pelo capricho no interior e decoração.
Eu estava lá para reconhecer Mrs Woolf em Mrs Dalloway, apreciar o ambiente e comer.
O mais próximo que se chega da obra prima de Virginia Woolf é na hora de pagar a conta, cuja fatura vem acompanhada do título que dá nome ao local. Acho, e aqui aproveito para sugerir, que o livro deveria ser presenteado aos clientes como um gesto de agradecimento pela escolha do restaurante. Mas não é. Deve-se entregar de volta o exemplar belíssimo e pagar a conta que não demora a chegar, diferente dos pratos.
O local, o ambiente e a decoração são mesmo de sonho. Com exceção de uma atendente, o staff me pareceu imaginar que trabalhava no mais exclusivo hotel cinco estrelas, com um relativo ar de desdém, pouco entusiasmo e alguma pretensão.
Há momentos que se torna difícil conseguir apreciar a beleza da area. São muitas pessoas que estão ali para fotos apenas, o que é compreensível.
Quando fiz o meu pedido, cassoulet de bacalhau e chorizo, pedi uma recomendação de vinho. Ao invés de se engajar com o meu pedido específico, fui apresentada à carta de vinhos.
Pedi um excelente Pinot Grigio que serviu de alívio para o prato salgado demais e que me fez beber quatro copos de água. Um prato bom, mas longe de ser excepcional conforme a expectativa que crescia em mim de acordo com a postura quase pretenciosa dos garçons.
Além disso, ao terminar meu prato principal, fui deixada sem qualquer atenção por vinte minutos contados no relógio. Eventualmente, alguém quis saber se eu queria a sobremesa. Pedi o fondant de chocolate que, no Brasil, aparece com o nome equivocado de petit gateau e aí sim, o dia passou de medíocre a espetacular.
A sobremesa foi absolutamente sensacional e acompanhou o fondant um excelente sorvete de pistachio que completou perfeitamente o sabor bem casado.
Considerando que eu estava sozinha, não me senti muito confortável. Tinha a impressão constante de estar ocupando o lugar que seria para duas pessoas e por vezes, fiquei à espera de atendimento por tempo demais.
Paguei a conta feliz com a sobremesa e encantada com o interior.
Clarissa Dalloway, como eu, aprovaria a beleza do lugar, mas acredito que também cobraria mais substância.
Ainda assim, o local não desaponta se beleza for, para quem visita, fundamental.
Certamente uma tentativa interessante de promover literatura e gastronomia em Londres, num dos mais bonitos bares no centro da cidade na literária Bloomsbury.
E pra você que me lê, passa no nosso Facebook , são tantas histórias pra acompanhar...