Meu nome é Elizabete Antunes. Sou jornalista, nascida e criada no Rio de Janeiro. Trabalhei no Jornal do Brasil, em O Globo, na revista Contigo! E, prestei serviço para a revista Veja Rio (Editora Abril) e para a revista Quem (Editora Globo). Com dupla cidadania, me mudei para Portugal com marido e enteada há dois anos. Vou contar para vocês como essa mudança aconteceu na minha vida. Hoje, vivo em Lisboa.
Era 1990, ano que o então presidente Fernando Collor de Mello confiscou a poupança dos brasileiros. Por muito pouco, meu pai, imigrante português, quase viu a viagem que ele sempre sonhou em fazer – levar a família toda a Portugal – ficar para trás com o seu dinheiro bloqueado pelo governo.
A sorte, que infelizmente poucos brasileiros tiveram, foi que alguns dias antes do anúncio do confisco, ele retirou o dinheiro da caderneta para comprar as passagens aéreas e para outros gastos que uma viagem à Europa - fomos à França também- requer.
Até hoje, ele não cansa de repetir: “Se eu não tivesse ido a Portugal, o Collor tinha ficado com meu dinheiro”. E eu, muito provavelmente, não estaria morando em Lisboa. Há dois anos, depois de visitar a terra de Camões várias vezes - país pelo qual me apaixonei na viagem feita com meus pais há 30 anos - eu deixei de ser turista para me tornar uma cidadã portuguesa.
E podem ter certeza: não é fácil! O país que conhecemos nas férias não é o mesmo no dia a dia. Nenhum é. O Portugal que eu vivo hoje é o de pagar contas, impostos, de ir ao supermercado, de ir ao médico, de ir ao banco. A diferença - e por isso eu e meu marido resolvemos atravessar o Atlântico – é que aqui eu encontrei duas coisas que me são muito caras: segurança e qualidade de vida. Não é um paraíso bíblico. No Chiado e no Rossio, pontos turísticos lisboetas, que na pré-pandemia costumavam ficar lotados, é preciso ficar muito atento com os batedores de carteira, que também costumam pegar os incautos na fila do Elevador de Santa Justa.
As casas de luxo de endereços privilegiados como Cascais têm alarme contra roubo, assim como as de veraneio em vários pontos do país.
Mais uma vez, porém, a diferença é que Portugal é o quarto país mais seguro do mundo, segundo o Global Peace Index (GPI). E eu sinto essa tranquilidade quando saio à rua, pode ser de madrugada, quando eu paro meu carro num sinal de trânsito, sem ficar preocupada se um motoqueiro vai me assaltar, quando eu retiro (aqui, fala-se “levanto”) dinheiro de um caixa eletrônico que fica na rua. Isso mesmo, caixa eletrônico na rua! Eu morava no Rio de Janeiro, cidade onde nasci e que eu amo, mas não aguentava mais tanta violência.
O SEGREDO É SE ENTREGAR AO PAÍS
Mas, como já disse, não é fácil. Mesmo sendo filha de pai e mãe portugueses, tendo sido criada dentro dos costumes da terrinha, a adaptação não acontece num estalar de dedos. É preciso estar aberto ao novo! E, ao me tornar uma cidadã portuguesa, eu também abracei esse país como meu.
Acho que é esse é o segredo: entregar-se. Enxergar a luz que só Lisboa tem; desbravar suas praias, que, apesar da água ser fria, são lindas e tranquilas; tomar uma sopa quentinha no inverno antes das refeições, como os portugueses fazem; estar sempre pronta para descobrir os sabores e as belezas de um país que é pequeno, do tamanho de Pernambuco, mas gigante diante de sua história.
Todos os dias, eu agradeço aos meus pais pela viagem que fizemos juntos em 1990. O ano que mudou a minha vida.
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