De volta ao Rio, um amigo me perguntou sobre a cidade da Alemanha em que moro, Bad Reichenhall. Alguns lugares têm uma história especial que merece uma pesquisa mais profunda. Desse jeito, a gente vai descobrindo coisas incríveis. E, vocês sabem que vivo numa ponte entre o Rio e a Alemanha. Enfim, sempre tenho coisas para descobrir dos dois países.
Saí do Rio e fui parar em Bad Reichenhall, uma cidade emoldurada pelos Predigtstuhl, Zwiesel e Staufen, que é a porta de entrada para os Alpes de Berchtesgaden. Por aqui, as atividades ao ar livre são inesgotáveis. São passeios de bicicleta , caminhadas por inúmeras trilhas, montanhas, florestas, paisagens lindíssimas com seus riachos de águas cristalinas. Tudo em meio a uma atmosfera de ar puríssimo.
Eu amo as águas do mar, acabei vindo parar num lugar que não tem praia, mas tem sal no subsolo. Muito tempo atrás toda a região dos Alpes, entre o sul da Alemanha e a Áustria era mar. Dentro das minhas reflexões, pensei: por caminhos da minha vida, vim parar em um lugar que um dia foi mar só que nos Alpes.
UM POUCO DE HISTÓRIA
Como isso aconteceu? Sempre ficava pesando nisso. Bem, o mundo foi se movimentando, o mar foi engolido e ficou concentrado de baixo da superfície dessa região. No processo subsequente, a sedimentação foi se depositando em camadas de até 30 metros de espessura. Ao longo de muitos milhões de anos, essa área foi coberta por novas camadas de sedimentos e, assim, ficaram cada vez mais ao fundo da superfície terrestre.
Após milhões de anos, as gemas de sal se formaram pela evaporação da água do mar. O sal-gema é responsável por cerca de 70% da produção mundial de sal . Os 30% restantes são sal marinho. O sal-gema extraído na Alemanha e na Áustria é dos mais antigos do planeta. As regiões de Berchtesgaden e Aussee no Salzkammergut são áreas de mineração onde permanece intocado o sal do mar primordial. A base do sal desta região é uma salmoura milenar formada pela mais pura água de nascentes das montanhas que corre pelas rochas e lava o sal das profundezas da montanha. A denominação "ouro branco" vem de uma época quando o sal era extremamente valioso para a economia dos reinados locais. Além de ser usado como moeda, o sal conservava os alimentos. Aqueles moradores que tinham sal suficiente para comer eram os que poderiam sobreviver, principalmente, nestas regiões em que o inverno pode ser muito rigoroso e longo.
CURIOSIDADE
Os depósitos de sal nos países de língua alemã foram os primeiros a serem explorados no mundo. Nomes de cidades como Bad Reichenhall, Salzburg ( Áustria) e Hallstatt se devem a essa exploração comercial de sal. Essa atividade em Reichenhall fez crescer ou surgir economicamente importantes cidades, como Salzburg, Munique ou Passau. O sal moldou o desenvolvimento socioeconômico e cultural de toda a região durante séculos.
Do ponto de vista geológico, o sal desta região é uma matéria-prima muito antiga, e por isso se chama ursalz . O sal foi provavelmente produzido em Bad Reichenhall já na idade do Bronze, há mais ou menos 4.000 anos. Havia água salgada das nascentes de salmoura: sal de fácil extração. Para produzir o sal, a salmoura era aquecida com a lenha das florestas. Depois, era só esperar a evaporação fazer o seu papel.
A maior parte do sal era transportada em navios através dos rios Salzach e Inn até Passau. De lá, seguia pelo Danúbio até Regensburg e mais ao norte, pelo Danúbio até Viena.
ANTIGAS SALINAS E SEUS RECORDES
A antiga salina de Bad Reichenhall é um dos monumentos industriais mais importantes da Bavária.Fica bem na cidade e lá compro sempre os sais.
Mas a mais antiga mina de sal ainda ativa da Alemanha é Salzbergwerk Berchtesgaden
Estive duas vezes visitando, uma com o marido e outra com a família . Foi um passeio bem legal para todos.
Pesquisando mais cheguei na história da cidade de Hallstatt no Salzkammergut da alta Áustria. Estive com meu marido na cidade num aniversário de casamento. É uma cidade fofa que aparece como inspiração para o desenho Frozen. É tão fofa que virou o “point” de noivos chineses. Sei que até fizeram uma réplica dela na China.
A história de Hallstatt, à beira do lago nos Alpes, é moldada pelos depósitos de sal da montanha ao seu redor. As pessoas extraíam sal aqui já no período Neolítico, 7.000 anos atrás. Isso mesmo, há 7.000 ANOS! Isso faz de Salzwelten ,em Hallstatt, a mina de sal mais antiga do mundo e Patrimônio Mundial da UNESCO.
Quando lá estive, fiquei imaginando as pessoas equipadas com as ferramentas rudimentares cavando túneis de até 200 metros de profundidade montanha a dentro. Construíram escadas para transportar o "ouro branco" ( o sal) das profundezas da montanha. O oleoduto de salmoura existe desde 1595. É o oleoduto mais antigo do mundo, assim como, Salzkammergut é a região industrial e cultural mais antiga do mundo.
Para quem gosta de lugares de “místicos, esta região é considerada um “kraft Ort” e um kurort por ter muita energia e com propriedades curativas. Pelo sim, pelo não, um belo banho de sal desta região tira qualquer ziquizira, literalmente milenar.
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