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Será que Papai Noel existe?

Atualizado: 26 de dez. de 2023


Todas as luzes da casa já estavam apagadas. Chovia fino. Papai Noel deveria estar debaixo de um guarda-chuva vermelho gigante para não deixar molhar o saco de presentes. Era assim que a garota imaginava. Saiu da cama em busca de algo que esperava muito. O entorno da árvore de Natal, no entanto, estava do mesmo jeito. Não havia nada diferente. As bolinhas brilhavam com um rasgo de luz que entrava pela veneziana da janela em madeira da sala.


A mãe percebeu o movimento. Vendo a menina sentada no chão pediu que voltasse para o quarto: “Vou não. Vou esperar meu presente”. "Minha filha, o Papai Noel só vai chegar daqui a alguns dias. Volta pra cama”.

Eu tinha 4 ou 5 anos. Passei dias esperando pelo meu presente.


A falta de grana impediu que eu tivesse uma bicicleta quando todas as outras crianças da rua já tinham uma. Nem sei se eram maiores do que eu ou não. Como era magrinha e alta sempre me dava com gente mais velha. Ficava encostada no bouganvile da calçada apreciando o barulho das rodas de metal.


Despertei algumas outras noites para ver se o meu pedido havia sido entregue. Sem noção nenhuma de tempo.


Afinal, o 24 de dezembro chegou. Nós passávamos a data com a minha avó brasileira. Naquela noite, a casa centenária em São Cristóvão no Rio de Janeiro se transformava em um palácio de alegria e afeto. Muita gente falando ao mesmo tempo, rabanadas, docinhos, bacalhau sobre a mesa comprida. Depois da ceia, dormíamos por lá mesmo. Morávamos no subúrbio e havia muita dificuldade para retornar.

No dia seguinte, no caminho de volta, os pensamentos retornaram para o meu sonho. Sempre tagarela, pouco abri a boca no longo trajeto de ônibus. Crianças sabem bem o que as aflige. Ficam caladinhas sem entender o porquê do silêncio. "Será que Papai Noel havia lido o bilhete que pedi para minha mãe escrever?"


Corri para o portão logo que chegamos em casa. Quando a porta de entrada se abriu, lá estava ela. No guidão, dois lacinhos vermelhos. Paralisei.


 “Epa, não vai pegar o seu presente?”. Meu pai ainda com a chave na mão me incentivava a sair do lugar. A cabeça rodava em um misto de pensamentos, felicidade, dúvida. Não conseguia entender como a bicicleta amarela havia ido parar dentro da sala. Na minha casa não havia chaminé e janela estava trancada. "Como Papai Noel havia entrado?' Crianças!


Fotos: Pixabay


Guiga Soares é brasileira e vive entre o Rio, Mannheim (Alemanha) e Lisboa (Portugal). É jornalista - formada pela PUC-RIO - com pós-graduação em Marketing, escritora, relações públicas e produtora de eventos. Atualmente, se dedica ao mundo dos contos e crônicas. Em 2023, lançou seu primeiro livro "Um Golpe na Sorte" pela editora Bandeirola de São Paulo.


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