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  • Foto do escritorDo Rio pra cá

Fora do meu quintal


Eu gosto de fotografar céus. Seja na minha terra, seja em terras estrangeiras, olhar para o céu me conecta com os meus. Gosto de olhar as formas das nuvens, a maneira como os prédios emolduram e caracterizam a paisagem local, ou mesmo a expressão delicada das árvores e seus galhos, com ou sem folhas, dependendo da estação.

Assim como as pessoas, os céus também são diferentes e revelam a identidade delicada do lugar que representam. Pelo mundo afora, pássaros diferentes cantam, em suas cores e matizes. Chegamos ao outono. Mais uma vez. E, nesta roda gigante que é o tempo, o outono chega no momento propício das mudanças pelas quais estamos passando.

Como no décimo arcano do tarô, a roda da fortuna gira, trazendo à tona tudo aquilo que ainda não foi resolvido. E precisa. Não há como fugir da marcha inexorável do tempo... Nesta estação de bandeiras e palavras de ordem, percebo que estamos nos movendo. Incomodados, atrapalhados, mas estamos... Alguns têm absoluta certeza do que querem. Outros, ainda não. Há muitas folhas para cair. O mais importante disso tudo, é que o tronco permaneça firme, plantado ao chão.

Me encanta numa viagem ter a possibilidade de observar o comportamento dos locais. Gosto de perceber sua maneira de andar nas ruas, como cruzam os caminhos dos outros, o que comem, o tom de voz ao conversarem enquanto caminham – quando conversam – ou, o que carregam nos carrinhos de supermercado. Lá fora há outras árvores, outras flores, outros jardins.

Somos muito diferentes. E, infelizmente, para o povo brasileiro, considerado “alegre”, este não é um elogio. Dos destinos mais comuns, seja nos Estados Unidos ou na Europa (sem distinção de cidade), as pessoas não costumam se esbarrar. Eles também não param do lado esquerdo da escada rolante. Quando param, utilizam somente o lado direito, deixando o lado esquerdo para a circulação de quem quer seguir caminho...

Não presenciei, nunca, fora daqui, alguém ouvindo música em coletivos sem seus fones de ouvido; Em Londres, percebi que as pessoas leem nos metrôs, muito mais do que no Brasil.

Fora daqui, leem-se mais livros, de papel. Aliás, em nosso país, a leitura acontece pela tela do celular. “Ah, Vanessa! Deixa de ser chata! São novos tempos!” – Pois duvido que alguém leia Dostoiévski, Eça de Queiroz ou Shakespeare na mini tela. Creio que reine o facebook ou o WhatsApp, onde alfinetadas cheias de certezas vazias, reinam...

Estou sendo cruel? Antes de considerar uma evolução, percebo uma certa preguiça. Não temos o hábito de nos ouvir. Aliás, temos ouvido seletivo. Só nos interessa os que pensam como nós e levantam as mesmas bandeiras. Os demais, são todos idiotas. “Como eu não percebi que esta pessoa era tão imbecil?! É isso o que ela pensa? Cruzes...”

Em tempos de outono, as folhas ressecam, amarelam... e caem. E, quando nascem, são pequeno brotos, verdes, quase fluorescentes.

E dentro de nós? O que o outono faz? A mudança só acontecerá, de fato, quando não aceitarmos mais o pouco e o errado. Quando soubermos distinguir e entendermos que depende de nós refazer o Brasil que desejamos.

O azul do nosso céu é lindo. O mais lindo de todos que vi. Azul dourado... E, como diria Dorothy, “não há melhor lugar do que nossa casa”.

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