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  • Foto do escritorDo Rio pra cá

Morar na Austrália, uma lição de desapego


Como muitos brasileiros, eu vim para a Austrália buscando mais qualidade de vida apesar das dúvidas e incertezas. Eu amava (ainda amo) o lugar de onde vim, meu Rio de Janeiro!

Mas como muitas outras pessoas, eu estava presa a uma rotina de trabalho árduo, gastando horas no transito, cansada de ver tantos escândalos de corrupção e coisas absurdas que acontecem num pais subdesenvolvido. Ao mesmo tempo tinha o medo do que ia encontrar e o receio de abrir mão de um trabalho legal, status e dinheiro.

Quanta bobagem! Meu marido e eu decidimos abrir mão dessas coisas para uma última aventura de morar na Austrália antes de termos filhos e hoje vejo como as coisas que me prendiam antes não tem significado algum.

Tenho 30 e ele 37 anos. Descobrimos que nunca e tarde para sair do conforto da sua casa e ver o mundo! E melhor ainda, descobrimos que ao invés de sonhar com a casa própria preferimos a liberdade de nem ter uma!

Mas confesso que e fácil mudar de cidade e cair nos mesmos velhos hábitos. Sabemos que temos que começar do zero e muitas vezes isso vem com o custo de trabalhar mais ainda. Mas não podemos ceder aos velhos hábitos para não perdermos de vista o propósito de ter vindo em primeiro lugar.

Então resolvemos fazer algo impossível de se fazer no Brasil: viajar e dormir dentro de uma van por 4 dias. Meu marido foi contra no início. Achou que o preço que pagaríamos na van poderíamos ficar num hotelzinho. Eu queria a liberdade de não saber onde iria dormir nas noites seguintes.

A previsão do tempo disse que iria chover a semana toda. Me preparei com um laptop, 2 temporadas de Game of Thrones, baralho, livro, etc. Mesmo com chuva, não tive tempo de abrir nenhuma dessas coisas e num vi tantos arco-íris duplos em toda minha vida! E golfinhos, mas não acho que isso tenha a ver com a chuva.

O plano era voar pra Gold Coast (passagens promocionais baratíssimas) e descer de van (não gastamos com aluguel de carro mais hotel) até Angourie National Park parando nas praias durante o caminho.

Assim que chegamos, meu marido gastou mais de mil dólares numa nova prancha de surfe. Não só isso, era mais que o valor total da viagem. E ainda por cima a prancha ocupa o espaço de um adulto deitado dentro da van ou seja, o marido dormiu em cima da esposa todas as noites.

Mas quer saber de uma coisa? Acho que tudo isso nos aproximou. O fato de não falarmos em dinheiro e ele poder fazer essa pequena "extravagância". O fato de termos tempo pra pensar como precisamos de pouco pra sermos felizes. O fato de estarmos ali juntos mas cada um fazendo seu esporte preferido na maior parte do dia. O fato de não pensarmos nos estresses de todos os dias e valorizarmos a companhia do outro.

No nosso dia a dia brigamos por coisas bobas que julgamos importantes e as vezes só precisamos de um pouco de distância pra lembrar por que escolhemos um ao outro e quão maravilhosa é a vida que você escolheu viver.

Ele surfou duas vezes por dia, todos os dias! E eu tive tempo pra mim mesma. Conheci gente nova, meditei, me exercitei pra poder encarar o chuveiro gelado da praia (onde mais eu iria tomar banho?).

Quando temos tempo pra nós, valorizamos o tempo que passamos com o outro.

Eu nunca dormi dentro de um carro antes. Nunca passei 4 dias sem maquiagem ou sutiã. Quase fui surpreendida nua por um policial.

Nunca senti adrenalina de fazer algo fora da lei (alguns lugares são proibidos acampar mesmo que dentro de um carro). Nunca vi meu marido tão apaixonado por mim por tê-lo trazido pra uma surf trip.

Nunca falei com tanta gente estranha e de todas as partes do mundo...

E assim vivemos uma história pra contarmos aos nossos netos.

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