Já faz algum tempo que recebi o convite do Do Rio pra cá para participar como convidada do blog. No inicio pensei: mas eu não sou do Rio, apesar de meus pais viverem na Cidade Maravilhosa há 28 anos, mais da metade da minha vida.
Assim, analisando melhor, cheguei a conclusão que tenho uma relação bem íntima com a cidade que aprendi a amar. E, no final, somos de Santos-SP, então a relação com o mar, a praia é natural. Pensando bem, eu também deixei pra trás uma história e precisei me reencontrar em terras “estrangeiras”. Sim, me encaixo nesse perfil.
Sendo assim, vamos ao que interessa: como cheguei do outro lado do mundo?
A história é longa e, em janeiro de 2019, completará 10 anos que vivo em Shanghai (Xangai), mas essa minha relação com o País do Meio começou em 2004, quando meu marido aceitou um contrato de 6 meses na gelada Chang Chun, para tocar um projeto, e nunca mais voltou ao Brasil. De 2005 até 2008, eu é que ia e vinha, numa ponte aérea maluca, cruzando o mundo duas a três vezes por ano.
Essa saga toda, já contei várias vezes nos meus textos pela rede, mas até hoje tem muita gente que se surpreende e me diz que não teria coragem de fazer essa mudança tão radical.
O que posso dizer a você que está lendo esse texto agora, é que fácil não é nem mudar de bairro, o que dirá mudar de cidade, país, continente e, principalmente se o local em questão tiver uma cultura completamente desconhecida. Agora, não é impossível. Basta querer, ter a oportunidade e, acima de tudo, aproveitar essa oportunidade para se tornar melhor, crescer, sair da zona de conforto e se reinventar.
Não há fórmulas, nem receita pronta para se adaptar num outro país, cada um é um e precisa descobrir seus próprios caminhos, mas coloco aqui um pouco da minha experiência e o que aprendi com o Dragão Chinês.
Lição número 1 – Se decidir sair do país, venha de mente e coração abertos.
Se não for assim, nem se dê ao trabalho de pensar na mudança. Lembre-se que não dá para querer ter a mesma vida que se tinha no Brasil, nem nos Estados Unidos e muito menos na China.
E falando em China, a cultura é completamente diferente, as regras sociais são outras, a maneira de pensar, de agir e lidar com as coisas mais simples do dia a dia, muitas vezes não fazem sentido para nós.
Aí é que está o grande desafio: buscar informação, entender, aceitar (eu não disse concordar) e tocar a vida adiante.
Lição número 2 – Somos os hóspedes no país que nos acolheu.
Essa também é uma regra básica para quem decide ir viver numa cultura tão diferente. Quando você abre as portas para alguém na sua casa, o que espera do seu hóspede? Que ele respeite alguns princípios básicos da sua rotina familiar, não é?
E se você é o hóspede, o que procura fazer para seu anfitrião? Tenta entender a rotina da casa e se adaptar a elas, incomodando o mínimo possível. Ao menos é assim que procuro agir.
Quando vamos viver numa outra cultura, por livre e espontânea vontade, temos que pensar e agir da mesma forma.
Na China, nem tudo me agrada, não concordo com muitas coisas, mas esse país me acolheu. Nossa vinda para cá foi uma decisão pensada, ninguém nos obrigou. A escolha foi baseada em vantagens e crescimento pessoais e profissionais e querer somente criticar, se desesperar ou reclamar por tudo, só irá dificultar a sua adaptação e de sua família.
Lição número 3 – Nunca diga nunca.
Essa foi a mais preciosa lição que a China me ensinou. Não sabemos do que somos capazes de enfrentar e nem da força que temos para nos superar, sem se deparar com o desafio. Muitas (muitas mesmo) coisas que jurei que jamais faria na vida, a China me fez repensar e fazer.
Tomar atitudes, por vezes radicais, me reinventar, aprender dois idiomas para sobreviver, perceber que não tenho mais zona de conforto foram algumas das experiências que vivi e ainda vivo aqui.
Isso é que nos faz crescer e entender que sempre podemos ser mais, aprender mais, viver um dia de cada vez. Não precisamos saber tudo, dominar tudo, mas estar abertos para o que a vida nos dá todos os dias.
A vida na China
Tudo que escrevi acima, faz parte desses anos de vida na China, de acertos e erros, de dias de desespero e outros de glória.
Vocês não podem imaginar a alegria, a sensação de realização, quando conseguimos perguntar o preço de um produto na vendinha da esquina ou dar a direção correta a um motorista de táxi e ser compreendida, num idioma que nos é completamente desconhecido.
Hoje, a vida na China é bem mais simples do que no ano que chegamos aqui. Os smartphones com acesso rápido a internet, seus aplicativos de tradução, mapas e dicas do idioma, foram a grande libertação do estrangeiro que vive aqui.
Nem tudo são flores, claro. Aqui há o problema (sério) de poluição, o bloqueio às redes sociais, a dificuldade cada vez maior de se obter um visto de trabalho e de permissão de residência, o idioma que muitas vezes nos engessa.
Mas eu prefiro olhar o lado bom: a segurança, nosso direito de ir e vir, o aprendizado e a necessidade de se superar todos os dias.
Com mais de 40 anos, quando mudei para cá, não imaginava o quanto ainda tinha para aprender, me reinventar.
Não foi fácil, doeu bastante, ainda tenho os meus dias de ‘bad China’, mesmo depois de tantos anos, mas quando olho para trás fico orgulhosa do que construí, da pessoa que me tornei depois da China na minha vida!
Nos vemos por aí!
Sobre Christine Marote http://www.chinanaminhavida.com
Christine tem formação em Educação, MBA em "China Business and Culture", pela Shanghai Jiaotong University,possui um blog onde conta sobre sua vida na China e é autora do livro 'China na minha vida - o que aprendi com o Dragão', lançado em abril de 2017. Mora em Shanghai, China, desde 2009, com o marido e os filhos.