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Foto do escritorDani Paiva

Rota da criação

Atualizado: 28 de dez. de 2019


Eu sei exatamente a água que bateu na minha bunda. Foi uma frase proferida por um tio dos mais amados, admirados, queridos, muso…

Ele integra a banda artista-louca-ovelha negra da família, a qual sempre flertei, participei, vivi e me entrosei mais do que qualquer outro parente da mesma idade.

Certo dia X, ele disse que euzinha aqui deveria encarar um concurso público. Oi?

Aconteceu em um típico momento “in between jobs” – desempregada durante um desses bota-fora da vida midiática do ser jornalístico.

Puta da vida, saí em busca do meu eu criador E criativo.

Custou caro optar pelas rotinas de redação, pela espiral serviço-cliente do trabalho em agência, pela liberdade de conta apertada no banco como freelancer.

Eu, hein....

Fast-forward dois anos. Estou em Norwich. A duas horas da opção mais óbvia para a big city lover que sou, London, of course.

Norwich, do time de futebol, sabe qual é? Isso até hoje eu não sei direito. Eu sei outras coisas daqui.

Eu sei como o frio vai lambendo a grama de gelo nas manhãs frias. Daí eu fecho os olhos e a sensação de estar inteira aquece o peito.

E pernear pelo centrinho sem carros, namorar a vitrine amarela da loja da estrela local Colman’s Mustard toda vez, caçar os pedaços medievais.

Norwich, 150 mil habitantes. Se você quiser, absorve tudo de uma talagada só e dá por visto. Mas se você também quiser vai caminhando pelas ruas no teu ritmo, de gastropub em gastropub, de showzinho a showzinho.

E eu que me imaginei louca em cena com o tédio de uma cidade bem menor do que a minha Brasília de nascença, do meu Rio no DNA de família, da minha São Paulo adotada. Há.

Já faz mais de um ano que cheguei. O mestrado oficialmente acabou. Mestrado de nome grandão – Enterprise and Business Creation. Uma porta para inventar a minha nova moda. E foi corrido. E foi intenso.

E foi sofrido. E solitário. E reflexivo. Como tem de ser.

Mas também teve andanças boas por essa Europa, jantares super internacionais com os coleguinhas de classe – a melhor comida tailandesa da vida, a melhor comida chinesa da vida... E teve colo de mãe que se debandou para cá como pôde.

E horas, horas e mais horas de Facetime com as amigas brincando de maratona – cinco horas ininterruptas de recorde! Todas e todos capturados pela tela.

Norwich, 6a cidade no Reino Unido mais visitada por turistas em daytrips.

Gosto de seu tempo diferente, desse jeitão descampado – como tem verde e horizonte! -de vida cultural em escala suficiente, da gente que não a troca por nada. A fine city é como a vendem por aqui. No começo, esse fine soava meio boring. Hoje está mais para nice.

Se vou ficar aqui mais tempo, não me pergunte.

A minha rota mudou um pouco, e essa é uma outra história que eu conto depois para vocês.

Na verdade, não é que a rota mudou.

É o percurso, em fase de recriação.

Eu e ele, ele e eu.

Agora somos co-criadores nesse lance de futuro.

O que vai ser um grande barato.

Santé!

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