Dia desses chamei um moço pra porrada.
Na verdade, fui um pouco mais punk rock. Do you want to be dead?
Olha, não sou dessas. Até me orgulho de ter feito um ano de boxe no underground de Brasília há alguns milênios.
Gostava do suor e da dança do movimento. Mas, na hora de entrar em um treininho um pouco mais pesado, não dava conta.
Sou das que ri, amolece, encolhe diante de um tantinho a mais de força do outro. Isso em vários espaços da vida.
Fico miúda diante de chefias que te empurram pra lama para que você responda com vigor.
Nesse mundo exigente de opiniões eu prefiro ouvir, flanar, alienar, pensar, mudar.
Depois de ameaçar o mocinho, me senti derrotada.
A situação foi a seguinte: estava eu recrutando ajuda para um evento que o Cooknst (meu business de comida, cultura e experiência) vai promover nas próximas semanas.
Sabe como é, startup, estamos começando, bora junto!
Expliquei para o rapaz em questão, meio italiano, meio alemão, até então cheio de energia colaborativa, que a ideia era trazer um belo boteco para dentro de uma empresa de vinhos.
No cardápio, sanduíche de carne louca, cachacinha, um super músico brazuca tocando bossa e MPB no violão, e muita alegria!
Aí veio o comentário que mexeu comigo:
‘Ah, só não vai ter puta, né?’. What?
Ele balbuciou: passeis 6 meses no Rio, era só o que eu via na saída dos bares...
São tantas coisas que a gente lida nessa opção de ver o melhor e o pior de outro mundo que não é o da gente...
A língua, a política, o modus operandi, esse tal de business, o sol e frio, a temperatura das pessoas, o custo de vida, a liderança, a necessidade de afeto...
Até esquece esse tipo de ‘lida’...
Essa coisa machista, preconceituosa, desrespeitosa, pequena, babaca! Comigo, com a mulher, com a puta, com o país, com a empreendedora, com a brasileira...
Quando chamei o rapaz pra porrada, virei babaca também. E é isso que me doeu.
Claro que depois, já calma e maternal, puxei o garoto no canto e expliquei que aquilo tinha sido um desrespeito de um tudo.
Ele meneou a cabeça com cara de susto. Acho que não entendeu meu ponto. Tudo bem. Seguimos.
Eu quero ser mulher brasileira bem-sucedida que nutre um ambiente dessa combinação muito especial de amor, doçura, força e energia.
Sinto isso muito no meu ser mais feminino, que naquele momento foi suprimido pelo masculino e por toda a carga dele.
Tô fora dessa que se defende das babaquices do mundo.
Prefiro a brasileira empreendedora, mulherzinha e que faz e acontece anywhere anytime de um jeito só da gente.
Daniela Paiva é empreendedora e jornalista, atualmente nessa ordem, no futuro, quem sabe o que terá mais por aí?
Nasceu em Brasília, morou em São Paulo, e tem longas raízes no Rio – pai, mãe, padrasto, irmãos, amigos, passado de criancinha... Passou pelo Correio Brasiliense, pela Folha e pelo Brasil Econômico.
Foi colunista de gastronomia, música, comportamento e marketing. Mudou tudo e foi trabalhar em em agência. Mudou tudo e cursou o mestrado em Enterprise and Business Creation na Inglaterra. Daí ficou, e está por lá há dois anos.
Na terra da rainha, nutre os primeiros passos da startup Cooknst, de Cooking New Stories, ao lado de um monte de gente faminta por momentos incríveis, positivos, criativos e, acima de tudo, DELICIOSOS. acompanhe, deguste. www.cooknst.com