A garota de Ipanema que mora na SuĆƧa
- MƓnica Marks
- 9 de jul. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 30 de jan. de 2021

Sou carioca e filha Ćŗnica. Sou uma pessoa do mundo. Hoje, escrevendo esse texto para o āDo Rio pra cĆ”ā me dei mais conta ainda de como vim parar em na SuĆƧa e, pela segunda vez. Me empolguei e escrevi tanto que esse nĆ£o serĆ” o Ćŗnico texto. Vai ter mais.
Tudo começou quando eu tinha 7 anos num passeio a um aeroporto, claro! Não estava lÔ para viajar. E, sim, para ver os enormes aviões decolarem. Ficava imaginando pra aonde aquelas pessoas todas estavam indo e por qual o motivo.
Meus pais nunca tiveram o hĆ”bito de viajar para fora do Brasil. Minha mĆ£e foi apenas uma vez ao Peru. Eles tambĆ©m nĆ£o falavam inglĆŖs. NĆ£o tinham qualquer conexĆ£o com nenhum paĆs de lĆngua inglesa. Mas, apesar disso, me matriculara, a meu pedido, numa escola de inglĆŖs, o Curso Oxford, quando eu tinha 10 anos.
Eu nĆ£o era particularmente estudiosa, mas fiz atĆ© o nĆvel de treinamento para ser professora. Ironicamente, só consegui viajar para um paĆs de lĆngua inglesa lĆ” pelos meus 21 anos. Foi assim que essa vida fora do paĆs comeƧou na minha vida. E, que me acabou me trazendo para cĆ”, SuĆƧa.
NO JAPĆO COM O MEU INGLĆS

Certa vez, fiz uma viagem de turismo aos Estados Unidos. Logo que cheguei fui fazer um casting (escolha de modelos para uma campanha ou desfile) para uma agência japonesa. Acabei sendo uma das escolhidas para ir a Tóquio. E, lÔ, fui eu. Pensei imediatamente como o meu pedido pra estudar inglês aos 10 anos finalmente começava a trazer seus dividendos.
A habilidade de uma boa comunicação, especialmente, na Ć”rea de trabalho jĆ” nos coloca na frente de outros companheiros. A experiĆŖncia de trabalhar e de se comunicar com diversas nacionalidades me abriu a mentalidade. Me tornou uma pessoa mais flexĆvel e tolerante. Tive a oportunidade de ouvir histórias, de conhecer outros hĆ”bitos e costumes e de lidar com diferentes personalidades. Foi engrandecedor, especialmente naquele momento do mundo antes da globalização.
Como trabalhava bem acabei indo algumas vezes ao JapĆ£o ao longo dos 5 anos que viriam. Os japoneses sĆ£o - impressĆ£o pessoal relacionada Ć quela Ć©poca- super educados e nada confrontadores. Eles vivem direcionados para comunidade. SĆ£o milhares de pessoas que residem em uma das Ć”reas do mundo com maior densidade urbana. Eles precisam conviver da melhor e mais eficiente maneira possĆvel.
Assim, as regras eram muito respeitadas. No entanto, como em outras sociedades, havia detalhes nĆ£o tĆ£o positivos. A vida sedentĆ”ria e a competitividade, Ć s vezes, os levavam ao suicĆdio. VĆ”rias vezes, precisei mudar de linha de metrĆ“ porque uma pessoa havia se jogado em frente de um trem. A pressĆ£o e o preƧo alto do estilo de vida os levava ao desespero.
Foi nessa Ć©poca quando vivi no JapĆ£o que comecei a entender a diferenƧa entre ser turista e ser residente. Imergir em uma cultura totalmente diferente, dĆ” a oportunidade de olhar para sua própria. No comeƧo, foi um clĆ”ssico comparativo e desdenhoso das minhas origens. Novidades, Ć s vezes, sĆ£o atraentes e hipnóticas, porĆ©m nem sempre reais. Depois de algumas idas e vindas finalmente entendi que ālĆ” era lĆ”ā e que āaqui (Brasil) era aquiā.
Povos sĆ£o completamente diferentes. TĆŖm suas distintas culturas e hĆ”bitos influenciados pela sua história singular, diferentes climas e posiƧƵes geogrĆ”ficas. Decidi inconscientemente que se pode, com certeza, analisar as diferenƧas, mas nĆ£o comparar. Todo paĆs tem seus lados positivos e negativos.
MINHA VIDA NA ALEMANHA

No meio dessas viagens ao JapĆ£o, conheci um alemĆ£o. NĆ£o foi no JapĆ£o ou na Alemanha: foi no Rio mesmo, melhor, na minha academia de ginĆ”stica. Ele falava fluentemente o inglĆŖs e o portuguĆŖs. Morava com os pais em Ipanema. ComeƧamos a namorar, mas, infelizmente, a universidade dele era em uma linda cidade alemĆ£, universitĆ”ria e bem turĆstica chamada Heidelberg. Acabei tirando um ano sabĆ”tico da carreira de modelo. Acho jĆ” estava, com certeza, contaminada pelo bug da aventura. Decidi morar com ele na Alemanha.
Aproveitei tambĆ©m para cursar a universidade de Administração por lĆ”, onde as aulas eram em inglĆŖs. Olha aĆ, mais dividendos do meu curso de inglĆŖs. A universidade era particular, assim, decidi pedir uma bolsa de estudos. Consegui um pequeno desconto que era compensado com o meu trabalho na biblioteca: foi outra chance de mais experiĆŖncias internacionais. Havia estudantes do mundo inteiro em um ambiente com pessoas totalmente diferentes da minha atividade anterior de modelo.

JĆ” tinha mencionado, anteriormente, que eu nĆ£o era particularmente estudiosa. No entanto, aqui, vai uma curiosidade: as aulas de matemĆ”tica eram muito mais bem compreendidas por mim jĆ” que eram em inglĆŖs! O āpulo do gatoā Ć© que eu prestava atenção no inglĆŖs e automaticamente entendia a matĆ©ria. Acho que foi isso mesmo.
Viajei pelo paĆs, conheci muitos castelos e histórias, nem sempre de fadas, mas fascinantes. TĆnhamos regularmente contato com toda a famĆlia do meu namorado: avós, tios e primos e, Ć© claro, a comunicação, principalmente, era feita em inglĆŖs (obrigada, Curso Oxford, de novo) e em alemĆ£o tambĆ©m.
Como todo brasileiro, arranho um pouco do espanhol. EntĆ£o, naquela Ć©poca eu jĆ” estava com 3 idiomas diferentes na minha cabeƧa: inglĆŖs, espanhol e o alemĆ£o. Com o meu alemĆ£o e meu relacionamento com a famĆlia alemĆ£, fui atĆ© um dia colher cogumelos com uma das avós do meu namorado no meio de uma floresta Ć s 7 da manhĆ£ e no inverno. Peculiar hein!? Mas, nada incomum!
Os alemĆ£es ā claro, falo sempre por experiĆŖncia própria- foram sempre muito simpĆ”ticos comigo e muito carinhosos. Eles sĆ£o super dedicados a assuntos ecológicos. JĆ” em 1989/1990, o nĆvel de reciclagem de lĆ” era altĆssimo. Tive uma ótima experiĆŖncia no paĆs.
Enfim, fiquei na Alemanha por 2 anos. AtĆ©, que o meu namorado, que detestava morar no seu paĆs de origem, decidiu viver em definitivo no Brasil. E, graƧas Ć minha influĆŖncia, e pela minha anterior e breve passagem pela faculdade CĆ¢ndido Mendes, em Ipanema, ele se acabou se formando nessa instituição. Encurtando a história: acabamos terminando o namoro depois de 4 anos juntos.
Os contos da minha não terminaram. Volto em breve. Haja assunto nesse meu longo tempo fora do Brasil.



